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30 de junho de 2021

MPF investigará ligação de funcionária da Sesai com o garimpo ilegal

Destaques, Notícias, Povos Tradicionais

    A matéria faz parte de uma Investigação inédita da Repórter Brasil em parceria com Amazônia Real com reportagens que revelam a rota do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami

    O Ministério Público Federal (MPF) em Roraima vai investigar se há ligação de uma funcionária da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, com o garimpo ilegal, conforme denunciou a reportagem especial Ouro do Sangue Yanomami, uma parceria entre a Amazônia Real e a Repórter Brasil. A técnica de enfermagem e fisioterapeuta Thatiana Nascimento Almeida foi flagrada vendendo o metal na Rua do Ouro, em Boa Vista, no dia 28 de abril, e o caso foi revelado pela reportagem publicada em 24 de junho.

    Segundo o MPF, a investigação do órgão será interna e na esfera criminal, em que testemunhas são ouvidas e provas são coletadas. O resultado da investigação poderá ser encaminhado à Polícia Federal com pedido de abertura de inquérito.

    Em outro desdobramento do caso, o presidente do Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuanna (Condisi-Y), Junior Hekurari Yanomami, disse à Amazônia Real, nesta terça-feira (29), que irá solicitar à coordenação do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Ye´kuana (Dsei-Y) o afastamento imediato de Thatiana Almeida.

    Junior Kekurari disse que procurou a técnica de enfermagem após publicação da reportagem e a convidou para uma conversa. Segundo ele, no entanto, Thatiana disse que não compareceria. “Falei que não estava chamando para julgar, mas sim para conversar. Vou encaminhar um documento para o coordenador recomendando o desligamento imediato dela.”

    O MPF informou que também encaminhou ofício para o Dsei sobre quais as providências que estão sendo tomadas em relação à profissional.

    A reportagem da Amazônia Real flagrou Thatiana Nascimento Almeida dentro da loja Opalo, vestindo uma máscara de proteção da Covid-19 com o logotipo da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), e negociando a compra de ouro do garimpo. O dona da loja, identificado como Willians Suarez confirmou: “aqui compro tudo.” A técnica de enfermagem deixou o carro ligado, com os faróis acesos e sem estacionar – distante da calçada – enquanto permanecia na loja Opalo. Instantes depois, ela saiu da joalheria, pegou um pacote no porta-luvas e entrou novamente.

    O carro em que Thatiana dirigia, uma Corolla preto placa NOY-1G90, foi identificado pela reportagem em nome de um familiar dela.

    Técnica de enfermagem Thatiana Almeida é lotada no Dsei-Y, em Roraima (Foto redes sociais)

    A série especial Ouro do Sangue Yanomami, fruto de quatro meses de investigação jornalística, revelou de forma inédita como funciona o esquema de exploração ilegal do ouro na TI Yanomami, que nesta terça-feira (29) foi alvo de uma anunciada operação da Força Nacional de Segurança (Leia abaixo mais sobre a operação Omama).

    O trabalho jornalístico mostrou como estão envolvidos no esquema criminoso empresas mineradoras com grande capital financeiro e donos de aeronaves a servidores públicos, políticos e governantes, indígenas, grifes de joalherias internacionais e o narcotráfico. Uma das sete reportagens foi a ‘Compro tudo’: ouro Yanomami é vendido livremente na Rua do Ouro, que traz em detalhes o momento em que a funcionária da Sesai, Thatiana Almeida, negocia a venda do metal.

    Troca de ouro por vacina

    Garimpo com dezenas de barracões visto em sobrevoo na região do rio Uraricoera (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

    O MPF em Roraima investiga a troca de vacina por ouro por funcionários da Sesai, conforme denúncia da Hutukara Associação Yanomami (HAY). Em abril, lideranças no território informaram que doses de vacina estariam sendo vendidas a garimpeiros em troca de ouro. A Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Povos Indígenas também denunciou o caso para a CPI da Pandemia.

    Sobre as investigações de troca de vacina por ouro denunciada pela Hutukara, o MPF informou que o órgão oficiou os Dseis e fez reunião com os órgãos envolvidos. Uma reunião para o dia 28 de junho estava marcada para tratar “destas questões na TI”. A reportagem questionou o MPF sobre a reunião, mas não obteve resposta até o fechamento da edição.

    O Ministério da Saúde e a Sesai não responderam às perguntas enviadas pela reportagem. Thatiana Almeida desativou as redes sociais e não foi encontrada. Em uma curta mensagem depois que a série Ouro do Sangue Yanomami foi publicada, ela anunciou que irá processar os veículos de comunicação.

    Operação na Terra Indígena

    Agentes federais na aldeia Palimiú no início de junho quando foram atacados por garimpeiros (Foto: Condisi-Y)

    Nesta terça-feira (29), mais de um mês após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso determinar a proteção dos Yanomami e a retirada de garimpeiros do território indígena, o governo federal iniciou a operação de desintrução na região.

    Desde o início de maio, os Yanomami vem sofrendo sucessivos ataques violentos e intimidações recorrentes por parte de garimpeiros, muitos deles ligados ao PCC. Mais de 10 ataques com tiros e bombas já ocorreram em aldeias à margem do rio Uraricoara, na região chamada de Palimiu (que também é o nome de uma das aldeias). Um dos ataques resultou na morte de duas crianças que, com medo dos tiros disparados pelos garimpeiros, fugiram para a mata e morreram afogadas.

    A Polícia Federal, em conjunto com o Exército, a Força Aérea Brasileira, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Força Nacional deu início à operação Omama. No último dia 14, o Ministério da Justiça já havia anunciado que enviaria a Força Nacional de Segurança à terra indígena.

    Na nota distribuída à imprensa, a PF afirma que o objetivo da operação é “desenvolver ações de combate à mineração ilegal na terra indígena Yanomami com a desintrusão de garimpeiros e a proteção aos povos indígenas naquela região”.

    A PF informou que “serão realizadas incursões estratégicas em diversos garimpos com apoio de aeronaves, equipamentos e tropas especiais visando apreender e inutilizar maquinários, aeronaves, insumos e outros materiais utilizados na extração de ouro, desencorajando os garimpeiros de permanecerem na região”. O nome da operação é em referência ao criador dos Yanomami, Omama.

    O ser criador está fortemente ligado à cosmovisão dos Yanomami e é frequentemente lembrado pelo líder Davi Kopenawa Yanomami nas inúmeras intervenções e declarações que fez em fóruns nacionais e internacionais e na imprensa. No minidoc produzido pela Amazônia Real para a série Ouro do Sangue Yanomami, Davi Kopenawa diz: “O nosso criador se chama Omama. Omama está junto de nós. Eu não estou sozinho. Estamos juntos. Juntos para a nossa Terra Mãe”.

    Garimpeiros mandam aviso

    Balsas de garimpo na região do rio Parima na Terra Indígena Yanomami (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

    A Polícia Federal não informou à imprensa o período de duração da operação e nem as áreas em que elas estão acontecendo. No entanto, antes mesmo de a operação começar, garimpeiros já sabiam do planejamento da operação, conforme atestam conversas e áudios que circulavam em grupos no WhatsApp de garimpeiros de Roraima desde o último final de semana.

    “Atenção, operação. Três dias de operação aí galera: terça, quarta e quinta. Vamos ficar [inaudível]. (…). Paredão,Boqueirão. Todos os becos de vielas”, diz um líder do garimpo, em áudio.

    Em vídeo que circulou nesta terça-feira, garimpeiros que filmavam o comboio de caminhões do Exército em estrada de Roraima comentavam a operação com ironia e curiosidade. “Bora ver quantos. Operação aí, papai. Para dentro do garimpo. Toma-te. Vai, vai. Acaba mais não (em referência aos caminhões). Olha o rancho deles. Tem mais ali na frente. Ibama, Icmbio…”

    A reportagem tentou contato com a assessoria de comunicação da PF em Roraima, mas não obteve retorno.

    Por: Maria Fernanda Ribeiro
    Colaborou Elaíze Farias
    Fonte: Amazônia Real

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