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24 de agosto de 2021

Alta no preço dos alimentos é consequência do agronegócio, diz porta-voz do Greenpeace

Notícias

    Adriana Charoux aponta para a agroecologia como modo de produção e consumo alternativo

    O último senso agropecuário do IBGE (2017), revela que o agronegócio domina 77% das terras agricultáveis no país – Foto: Governo do Mato Grosso

    Diante da alta do preço dos alimentos no país, o consumo e a comercialização de produtos provenientes da agroecologia apontam para um caminho diferente de insegurança alimentar e nutricional, segundo Adriana Charoux, coordenadora da campanha “Agroecologia contra a Fome”, do Greenpeace Brasil, que distribui alimentos saudáveis para populações em situação de vulnerabilidade social.

    De acordo com Charoux, em entrevista ao Brasil de Fato, a alta dos preços está diretamente relacionada ao agronegócio, que “privilegia muito mais a exportação à custa de um encarecimento brutal dos alimentos e de um aumento exponencial da fome da população brasileira”.

    Em um ano, o “prato feito” subiu praticamente o triplo da inflação, segundo um levantamento feito por Matheus Peçanha, pesquisador e economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE): 22,57% no acumulado de 12 meses diante de 8,75% do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) no mesmo período. Nesta conta, entre os que tiveram uma alta no preço, estão arroz (37,5%), tomate (37,24%), carne bovina (32,69%), frango inteiro (22,73%), feijão preto (18,46%), ovos (13,5%) e alface (9,74%).

    Paralelamente, o Brasil já é o quarto maior produtor de grãos do mundo, atrás somente da China, dos Estados Unidos e da Índia, e o segundo maior exportador dos produtos, sendo responsável por 19% do mercado internacional, segundo um estudo divulgado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, ainda em junho deste ano. 

    Isso significa que, com o agronegócio brasileiro com vistas extensivamente ao mercado global, a precificação dos alimentos se dá essencialmente em dólar, ainda que seja comercializado no país. Com a exportação de uma grande quantidade de alimentos, há o desabastecimento do mercado doméstico, o que também força o aumento no preço. 

    Confira a entrevista na íntegra:

    Brasil de Fato: Porque o encarecimento dos alimentos está relacionado diretamente com o modo de produção e comercialização do agronegócio e não simplesmente como uma consequência da inflação? Qual é o papel do agronegócio nesse cenário?

    Adriana Charoux: O encarecimento de alimentos é uma realidade que está deixando todos preocupados. O meu dinheiro compra cada vez menos alimentos e infelizmente esse cenário só tende a piorar, porque com o boom da produção de commodities no mercado global, mais do que nunca estão muito valorizadas, e o Brasil continua apostando no agronegócio como o grande caminho para segurar as pontas. Muitos agricultores acabam produzindo aquilo que vai ter mais valorização. Então muitos, por exemplo, estão produzindo a soja.

    E isso tem tudo a ver com a alta dos preços. A alta dos preços não é uma causa raiz, mas é uma consequência direta desse modelo agropecuário hegemônico que está estabelecido no Brasil, que privilegia muito mais a exportação, a concentração de riqueza e o lucro na mãos de poucos à custa de encarecimento brutal dos alimentos, de um aumento exponencial da fome da população brasileira.

    O que a gente está vendo agora ainda é pouco do que a gente vai ver de dramático nos próximos anos, uma vez que pesquisadores estão analisando que o boom de commodities vai durar pelo menos mais dois anos. Por isso que a gente reforça que a alta dos preços e a fome são consequências deste modelo, dessa escolha absolutamente perversa do sistema alimentar de produção e consumo alimentar estabelecido no Brasil hoje. 

    Nesse cenário, como e porque a agroecologia pode ser uma solução?

    O Brasil voltou ao Mapa da Fome. Isso é dramático porque não é algo inevitável, não é fruto de uma escassez de alimentos, mas fruto de uma decisão política complementa equivocada do Estado e das empresas brasileiras muito fortalecidas por essa política neoliberal estabelecida e radicalizada de retirar um direito fundamental da população brasileira, que é o direito de acessar comida de verdade. 

    A agroecologia é o caminho de superação dessas múltiplas crises que a gente está vivendo hoje, como um contraponto ao agronegócio tal como está estabelecido. Os brasileiros comem soja e um monte de coisa baseada em soja? Sim, mas a nossa dieta é muito mais rica e o agronegócio não tem promovido isso. Tem promovido o contrário. O agro é abastecido por doses imensas de agrotóxicos e encerra todas as características que a gente entende como deletério e contrário a qualquer horizonte de proteção ambiental, de direitos. 

    Portanto, quando a gente aposta na agroecologia, a gente está apostando nesse pacotão do bem, que não só beneficia apenas os lugares onde essa produção está acontecendo, porque é feita de forma aliada em harmonia com a natureza, de forma muito mais justa e promove a segurança alimentar. A guerra de narrativa, o agro é pop, tech, tudo, quando na verdade quem é realmente pop é a agroecologia que de fato serve ao país, ao meio ambiente e também dá base para que a gente consiga continuar se alimentando num futuro próximo e mais distante também. 

    Há uma narrativa estabelecida que diz que o alimento orgânico é para uma pequena parcela da população, que tem condições para adquiri-lo. Mas não é bem assim, certo?

    Essa é uma das falácias promovidas e estimuladas nessa guerra de narrativa muito perversa pelo agronegócio. Canal de comercialização é tudo. Tudo depende de onde você compra esse alimento e você compra diretamente do produtor você de verdade consegue acessar alimentos saudáveis, muito mais nutritivos e muito mais adequados do ponto de vista ambiental. 

    Escolham melhor de onde e de quem comprar. Está na hora dos brasileiros saírem do supermercado ou comprarem tudo no supermercado, porque acaba fortalecendo essa lógica perversa de encarecimento brutal dos alimentos que aumentam a fome. 

    Diga-se de passagem que a alta dos preços é o único motivo de a gente ainda não estar tendo um desabastecimento de arroz, de feijão, porque se todo mundo estivesse com condição de consumir, ia faltar. Isso é muito brutal. 

    Sem falar que, por privilegiar o mercado externo, o agronegócio acaba precificando os alimentos em dólar.

    Exatamente, mais um elemento para a gente ver a diferença entre comida e commodities. Se você pensar que a soja é estabelecida pela Bolsa de Chicago, esse processo de especulação brutal reforça essa ideia que comida é mercadoria. Para o agronegócio, a comida é mercadoria. Para a agroecologia, comida é vida, é alimento, a produção serve para alimentar, fortalecer os territórios. O Brasil mais do que nunca precisa de agroecologia. 

    Esse modelo baseado na monocultura, na devastação da floresta e no uso intensivo e desigual da água já está colocando a gente numa situação de aprofundamento dos impactos climáticos. Tem vários estudos que mostram que o regime dos rios voadores já está bastante afetado por conta do desmatamento. Isso tem afetado o agronegócio também. Em Mato Grosso, vários lugares que tinham mais safra agora tem menos, porque o regime da chuva mudou totalmente. 

    Como defende Ernst Götschrnest Got, é possível plantar comida plantando florestas. Então a agroecologia é uma das questões fundamentais, por estar trabalhando consorciada em harmonia com a natureza e não tendo a natureza como um elemento a ser dominado. E como se não fosse muito, a lógica da agroecologia acaba por fortalecer os territórios, também se assenta numa lógica de circuitos curtos de produção e consumo. Ou seja, de descentralizar a produção e fazer com que a produção esteja o mais próximo possível dos centros de consumo, e isso reduz enormemente a carga de gás de efeito estufa no transporte dessas cargas, considerando o Brasil de dimensões continentais e que apostou sempre nesse modelo rodoviário. 

    Por: Caroline Oliveira
    Fonte: Brasil de Fato

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