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13 de setembro de 2022

Candidaturas aos governos na Amazônia Legal prometem inserção no mercado de carbono

Biomas, Destaques, Notícias

Após destruição do Fundo Amazônia pelo governo Bolsonaro, governadores da região tentam captar recursos internacionais dando como garantia a preservação do bioma

Rio Trombetas, em Oriximiná, Pará. Foto: Márcio Isensee e Sá.

Os candidatos e as candidatas aos governos que compõem os nove estados da Amazônia Legal apresentam como uma das principais propostas em seus planos de governo, como medidas para a preservação do bioma amazônico, a adoção de políticas para a captação de recursos por meio dos programas de pagamento por compensação ambiental, o conhecido REDD. Entre as estratégias, está a venda de crédito de carbono estocado nas áreas de florestas primárias dentro de seus territórios para o chamado mercado de carbono. 

Com a intensificação dos efeitos das mudanças climáticas em todo o Planeta, cresce a corrida entre os países mais ricos e industrializados para amenizar os danos de suas emissões de gases do efeito estufa. Uma das formas mais práticas para isso é a compra de crédito de carbono. No mundo, as florestas tropicais, o que inclui a Amazônia, desempenham, entre os seus múltiplos serviços ambientais, a estocagem de carbono. Pagar para que os países detentores de florestas as mantenham em pé é a “compensação” adotada pelos maiores poluidores.   

De olho neste mercado potencial, os candidatos a governador na Amazônia Legal fazem promessas de acelerar o processo de regulamentação para ganhar alguns milhões de dólares da forma mais fácil possível: proteger a floresta do desmatamento. 

Além de um arcabouço legal que permita suas entradas no mercado internacional de crédito de carbono, os governos regionais devem fazer o simples, mas nem sempre bem visto, eleitoralmente, por uma parcela da população local: uma política de tolerância zero ao desmatamento e às queimadas.   

Com a maioria dos atuais governadores da região aliados à agenda anti-ambiental do presidente Jair Bolsonaro (PL), flexibilizando as regras ambientais para alavancar o agronegócio, os estados vêm ampliando suas taxas de derrubadas e fogo desde 2019. Assim, mais carbono e outros gases poluentes são emitidos para a atmosfera. Na linguagem prática do mercado financeiro, menos floresta resulta em menos dinheiro. 

Na região, Acre e Mato Grosso foram pioneiros na regulamentação de políticas públicas de REDD, que são os pagamentos monetários a governos, empresas e proprietários rurais que preservam suas áreas de floresta. No caso dos estados, um dos primeiros passos para executar estes programas de REDD/PSA (Pagamento por Serviços Ambientais), é a adoção do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE), que define quais áreas do território devem estar protegidas e quais podem ser exploradas pelas diferentes atividades econômicas.  

Ex-secretário de Meio Ambiente do Acre no governo Binho Marques (PT), entre 2007 e 2010, Eufram Amaral acompanhou de perto os primeiros passos tanto para a implementação do ZEE quanto do Sisa, o Sistema de Incentivo a Serviços Ambientais, que regulamenta os programas de captação e aplicação de recursos obtidos pela manutenção da Floresta Amazônica protegida; no estado, o bioma ainda ocupa 85% do território. 

Política local

Em 2012, o Acre, junto com o governo da Alemanha, iniciou o programa REM/KFW. Pelo contrato, o estado receberia 25 milhões de euros na primeira fase do projeto, encerrada em 2017. Para tanto, o Acre não poderia ultrapassar o teto anual de 330 km2 de floresta derrubada. 

A parceria foi renovada ao fim da primeira fase por mais cinco anos, agora com a participação também do governo do Reino Unido, elevando a compensação para 30 milhões de euros. A partir de 2019, com a posse de Gladson Cameli (PP) como governador, o estado passa a registrar aumentos consideráveis nas taxas de desmatamento, ultrapassando a estabelecida em contrato no programa REM/KFW. Cameli disputa a reeleição como favorito para vencer em outubro.  

Segundo Eufram Amaral, o Acre conseguiu captar R$ 200 milhões por meio do Sisa em sua primeira fase. Com a troca de governo, o estado não só aumentou a devastação da Amazônia como destruiu a estrutura administrativa responsável pela gestão dos programas. Uma das primeiras medidas adotadas por Gladson Cameli, em 2019, foi extinguir o Instituto de Mudanças Climáticas (IMC), que gerencia o REM/KFW. Ao perceber o estrago econômico de sua decisão, ele voltou atrás. 

“O Acre mostrou que é possível sim você ter um sistema subnacional. Embora hoje, o Acordo de Paris, ele trabalha essa questão entre os governos nacionais, mas o nosso sistema nacional prevê a participação dos governos subnacionais. Aqui na Amazônia nós temos um potencial tamanho. Mas há um problema: os gestores não acreditam nessa política”, afirma Eufram Amaral. 

Todavia, ressalta ele, o simples fato de tais medidas estarem incluídas nos programas de governo, já seria o sinal de certa mudança de visão entre a classe política local. Para Amaral, a grande dificuldade da atualidade entre os estados da Amazônia Legal é a falta de legislação para os programas de serviços ambientais. “É preciso primeiro ter esse arcabouço jurídico para garantir que os créditos gerados no estado são de domínio e posse do estado.” 

Além das leis, os governos também precisam fazer elevados investimentos financeiros e humanos para os programas de REDD. Investimentos em equipe técnica qualificada e em tecnologias para monitoramento estão entre as ações diretas. Com os atuais governadores mais alinhados com a política bolsonarista, é pouco provável haver interesse para se aplicar tais recursos. A maioria é candidata à reeleição, e aponta como favorita para obter mais quatro anos de mandato. 

“Os estados da Amazônia estão dentro do bioma Amazônia, sempre vai ter floresta. O gestor público prescindir da floresta é uma decisão completamente equivocada. No Acre nós ainda temos 85% de floresta primária. Imagina toda essa área gerando dinheiro para todos que estão aqui, o seringueiro, o índio, o produtor rural”, ressalta o ex-secretário de Meio Ambiente.  

Como destaca Amaral, o carbono é apenas um produto da cesta de serviços ambientais que a floresta proporciona. “Daqui mais um tempo nós vamos falar de água. Renumerar a floresta por produção de água. Depois, a própria regulamentação climática. O carbono é a ponta de um iceberg que abre para os serviços ambientais. Nós vamos passar a ouvir falar mais em serviços ambientais e menos mercado de carbono. A floresta não pode ser reduzida a carbono”, define. 

De acordo com Shigueo Watanabe Jr, pesquisador do Instituto Climainfo, somente nos últimos dois, três anos os governos da Amazônia passaram a se atentar mais para as potencialidades dos projetos REDD/PSA. Um dos motivos para isso foi o desmonte do Fundo Amazônia pelo governo Bolsonaro, o que levou os estados a perderem recursos não só para ações de comando e controle, mas em projetos para uma agricultura mais sustentável na região. 

Para o pesquisador, de nada adianta os governadores desenvolverem projetos para a captação de recursos junto a financiadores internacionais, se o governo brasileiro não atuar como um “avalista” para que de fato as metas de controle de desmatamento. Para ele, o atual governo de Jair Bolsonaro não tem condições para tal, sendo necessária uma mudança de ambiente político no país que reestruture a política de proteção ao meio ambiente, e transmita isso para o mundo. 

Por: Fabio Pontes
Fonte: O Eco

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