Taxa oficial de desmatamento na Amazônia Legal tem queda de 22,3% em 2023, segundo estimativa do Prodes

Redução do desmatamento reflete aumento da ação dos órgãos ambientais; taxas no Cerrado e queimadas, por outro lado, seguem em alta

Entre agosto de 2022 e julho de 2023, a Amazônia Legal perdeu 9.001 Km2 de cobertura florestal, contra 11.594 km2 desmatados no mesmo período do ano anterior. Os dados divulgados nesta quinta-feira (09) mostram que o desmatamento alcançou a menor área desde 2019, representando o segundo período consecutivo de queda, visto que em 2022 os números mostraram uma queda de 11% em relação a 2021, quando a derrubada de florestas atingiu o maior pico desde os 15 anos anteriores.

Divulgados anualmente desde 1988, os dados do Prodes produzidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) acompanham um calendário anual que vai de agosto de um ano a julho do ano seguinte. Em termos absolutos, a redução da área desmatada foi conduzida pela queda nas taxas do Amazonas – que registrou 1.553 km2 em 2023, contra 2.594 km2 em 2022; e do Pará – que caiu de 4.162 km2 em 2022, para 3.272 km2 em 2023. Em conjunto, os estados reduziram a área desmatada em quase 2 mil km2, o que representa quase a mesma área desmatada pelo Mato Grosso em 2023, o segundo estado que mais desmatou no período.

O Ministério do Meio Ambiente afirma que as ações de controle e fiscalização se concentraram principalmente em 70 municípios considerados prioritários. Esses 70 municípios, juntos, são responsáveis por 73% do desmate. Os órgãos ambientais têm anunciado ainda que usarão recursos do Fundo Amazônia para apoiar as cidades que reduzirem a destruição da floresta, de modo a atrair a ação dos governos municipais.

Já em termos relativos, a maior queda foi observada em Rondônia (41%), seguida do Amazonas (40%), Acre (29%), Pará (21,4%) e Tocantins (4%). Na contramão da tendência de queda nas taxas de desmatamento anuais, o Mato Grosso apresentou um aumento de 8%, Roraima de 6%, e Maranhão de 5%.

“É importante reconhecer os avanços positivos na redução do desmatamento na Amazônia Legal. Tais resultados são indicativos de que as ações de comando e controle estão surtindo efeito, como o aumento das ações do Ibama e atuação política do MMA junto aos governos estaduais. No entanto, outros desafios persistem, o alarmante aumento de 204% no desmatamento do Cerrado em outubro e as negociações envolvendo a tese do Marco Temporal e exploração de petróleo na foz do Amazonas são desafios que ainda precisam ser superados. É imperativo que a atenção e ação estendam-se para além da Amazônia, abrangendo outros biomas e questões com pouca atenção pública, como a dos direitos indígenas, para garantir uma abordagem abrangente e que garanta que as metas brasileiras de redução de gases de efeito estufa sejam atingidas”, afirma o diretor executivo da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, Mauro Armelin.

Desmatamento e queimadas: o caso do Amazonas

Os dados de queimadas em toda a Amazônia foram os piores dos últimos 15 anos, segundo o Programa Queimadas do Inpe. Foram 22.061 focos de queimadas, um aumento de 59% em comparação a outubro de 2022, quando foram detectados 13.911 focos. Roraima teve 409 focos no mês, um aumento de 250% em comparação ao ano passado, mas é o Amazonas que tem sentido ainda mais os impactos diante da situação extrema de seca dos rios. No estado foram 3.858 focos de calor, que representa um aumento de 157% em relação ao mesmo mês do ano passado.

Manaus vivenciou uma tempestade de poeira no último domingo (5), acompanhada por ventos de 70,4 km/h, segundo informações do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam). Vídeos compartilhados nas redes sociais, mostraram a cidade encoberta por uma nuvem de areia, danificando imóveis, causando destelhamentos e interferindo na rede elétrica.

A areia junto com a persistente fumaça das queimadas, cobre Manaus há mais de uma semana, comprometendo a visibilidade e resultando em condições climáticas desafiadoras. Mesmo com a queda na taxa de desmatamento, o Amazonas enfrenta uma seca histórica afetando os rios, a população, fauna e flora. O ICMBio está realizando uma operação de emergência diante da mortandade de botos e tucuxis no estado, foram 154 mortos em Tefé e 70 no lago em Coari em menos de um mês, devido à seca no Rio Solimões.

Deter registra menor área desmatada em outubro na Amazônia Legal desde 2015

Enquanto os dados do Prodes mostram a taxa anual, os dados do Deter, Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real, fazem um monitoramento em tempo real, servindo de apoio o planejamento das ações do governo e de indicador da situação. Esses dados são divulgados mensalmente pelo Inpe com informações da Amazônia Legal e do Cerrado.

Em outubro, desmatamento na Amazônia Legal caiu 52% em relação ao mesmo período do ano passado (2022), registrando o menor índice mensal para a região desde o início da série histórica do Deter. Ao todo, registrou-se a perda de cobertura florestal em uma área total de 435 km2. Já em relação ao mês de setembro a queda foi de 31%.

No Pará, estado responsável por quase metade da área desmatada na Amazônia Legal no período (211 km2), a queda foi de 51% em relação a outubro de 2022 e de 31% em relação a setembro de 2023. O Mato Grosso, segundo colocado da lista entre os estados com maiores áreas desmatadas, apresentou uma queda na taxa mensal de 55% em relação ao mesmo período do ano anterior e de 44% em relação a setembro, com 67,61 km2. No Amazonas, o sistema detectou uma área de 42,62 km2 sob alerta de desmatamento, taxa mensal que representa uma queda de 70% em relação ao ano anterior e de 55% em relação ao mês anterior. Rondônia também apresentou queda em relação aos dois períodos comparados, sendo ela de 53% em relação ao mesmo período do ano anterior e de 29% em relação ao mês de setembro de 2023.

O Acre teve uma área de desmatamento apontada pelo Deter de 34,22 km2 em outubro, o que representa, por um lado, uma queda de 47% na comparação com outubro de 2022 e um aumento de 80% m relação ao mês anterior. Já Roraima foi o único estado em que se registrou alta no desmatamento na comparação com ambos os períodos. O aumento foi de 24% em relação ao mesmo período do ano anterior e 102% em relação ao mês de setembro.

Os dados acumulados para a Amazônia Legal mostram que de janeiro a outubro de 2023 foram desmatados 4.775 km2, dado que representa uma queda de quase 50% em relação a área desmatada neste período em 2022, e a menor área acumulada no período desde 2018.

No ranking dos 10 municípios que mais desmataram na região no mês de outubro, seis são paraenses. Juntos, Santarém, Uruará, Altamira, Portel, São Félix do Xingu e Placas responderam por 78 da área sob alerta, mais de um terço da área total desmatada no Pará. Porto Velho/RO ficou em quarto lugar com 12 km, seguido por Juara/MT com 9 km. Boca do Acre/AM e Rio Branco/AC ocuparam 8° e 9°, com áreas desmatas de 7,7 km e 7,15 km, respectivamente.

Em relação às áreas protegidas, a Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, foi disparadamente o território mais atingido pelo desmate, em apenas um mês o Deter estima que 4,92 km de florestas tenham sido derrubados.

Desmatamento no Cerrado triplica em outubro e bate recorde em quase todos os estados abrangidos pelo bioma

Em outubro a área sob alerta de desmatamento no Cerrado foi de 683,24 km2, um aumento de 204% em relação ao mesmo período do ano passado e o sexto recorde mensal registrado para o bioma desde o início do ano. Em relação a setembro, o aumento foi de 3,75%. Com exceção do Mato Grosso do Sul, as taxas de desmatamento em todos os estados abrangidos pelo bioma foram as mais altas para o mês de outubro desde o início da série histórica, em 2019.

O Tocantins liderou o ranking dos estados com maior área desmatada no período com 198,69 km2, área quase cinco vezes maior que a registrada em outubro de 2022 e 40% superior à registrada em setembro de 2023. O Maranhão foi o segundo estado, com uma área sob alerta de desmatamento de 129,38 km2, representando uma escalada de 462% em relação ao mesmo período do ano passado e uma queda de 38% em relação a setembro. Na Bahia, terceiro estado da lista, foram 74,57 km desmatados, um aumento de 126% em relação a taxa mensal de 2022 e de 40% em relação ao mês de setembro. Em seguida vem o Piauí, com 68,81 km2, um incremento na taxa de desmatamento da ordem de 110% em relação a outubro de 2022 e de 33% em relação a setembro de 2023. Em conjunto, a área desmatada nos quatro estados que compõem a região do Matopiba foi de 471,45 km2, o que corresponde a 69% da área desmatada no bioma no mês de outubro.

Em Mato Grosso, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul houve aumento na taxa mensal em relação ao ano de 2022 (de 126% ,125% e 2%, respectivamente). Contudo, em relação a setembro de 2023, os dois últimos estado apresentaram leve queda (14% e 7%). Entre janeiro e outubro a área desmatada no estado foi de 6.802,08 km2, a maior área agregada desde 2019 e que representa um aumento de 34% em relação ao mesmo período do ano passado.

Por: Cintia Cavalcanti e Aldrey Riechel